É isso aí

A música “The Blower’s Daughter” (A filha do vento), na versão de Ana Carolina, ganhou uma frase que sempre me leva a pensar sobre metáforas.

“Um vendedor de flores
Ensina seus filhos a escolher seus amores”.

Li que a Ana Carolina se inspirou no filme “O Carteiro e o Poeta”, para escrever o verso acima. Ainda procuro pela cena. O filme é ótimo, para quem gosta de uma história bem contada sobre a amizade, sobre o amor, sobre metáforas, palavras e poemas.

É Borges, o argentino, que nos ensina, que “o importante sobre a metáfora é ser sentida pelo leitor ou pelo ouvinte como uma metáfora”.

Desde a primeira vez que ouvi “É isso aí”, o cenário para mim é o mesmo. Um vendedor de flores, carrega um vasilhame cheio de rosas e segura a mão de uma criança, que caminha ao seu lado. De bar em bar, ele observa o ambiente e escolhe alguns casais. Se dirige até eles e oferece uma flor. Ele não se apresenta para qualquer casal, ele os escolhe pelos olhares que trocam.

Sou dessa época, quando havia vendedor de flores pelos bares e restaurantes, e as vezes, sozinho, ficava observando-o a escolher seus amores. Estaria ele intuitivamente apostando no casal onde sua venda teria sucesso ou suas flores não eram para qualquer um? Teria ele a capacidade de observar e deduzir os casais que estavam enamorados? Teria ele o dom de perceber a troca de olhares apaixonados entre casais?

Confesso que muitas vezes estive tentado a perguntar isso a ele…

O vendedor de flores captura a sensação intensa de atração e incerteza, e encontra coragem para se intrometer àquela cena efêmera para oferecer ao casal algo também efêmero, e assim fazendo - sobrevive.

O garoto observa e viaja nos complexos territórios do afeto, vê seu pai pegar um lindo botão de rosa, escolhido especialmente para aquele casal, e sem saber, é lentamente introduzido ao paralelo entre a beleza fugaz de uma flor e a natureza efêmera do amor. Um dia ele entenderá…

O atento observador também navega ao largo. Do tom íntimo e instrutivo daquele cenário, capta um mentor usando seu ofício para ensinar nuances sobre o amor. A experiência de vida moldada por observar casais apaixonados, amalgamada em sua alma, lhe dá uma vivência única sobre relacionamentos. Uma perspectiva única. Um legado emocional.

Filho, escolha o seu amor como se escolhe uma flor e com cuidado o cultive.